9 de setembro de 2017

acorde-me


Eu reconheço os sinais, a dificuldade para sair da cama, as horas insones gastas com qualquer coisa que me faça fugir dessa realidade, eu me recordo bem desse cansaço psicológico, dessa fadiga sem esforço, já passei por isso antes e como um filme reprisado vejo tudo voltar. Não é preguiça, não é besteira. É algo que realmente tem incomodado. A bagunça no quarto se multiplica e os meus sentimentos parecem uma caixa imensa de fios desorganizados. E eu não sei por onde começar a arrumação. Eu escrevo listas e mais listas de tarefas a cumprir e elas se acumulam na minha escrivaninha, uma pilha imensa de planners, agendas, organizadores. Mas nada parece funcionar. Eu procuro no Google 'como organizar a vida' e nada me parece muito útil, são N sites que me dizem para comprar caixinhas organizadoras, para escolher as atividades que são prioridade, para me concentrar em uma tarefa de cada vez. Alguns outros falam que desapego é certeiro, vai desocupar meu guarda roupa, as gavetas e consequentemente minha vida emocional. Okay, vamos começar. Eu retiro as caixas do lugar, espalho os livros e as roupas sob a cama e começo a escolher: isto me traz alegria? Não! E isto aqui? Também não! E percebo que entre as tralhas, tem livro no plástico, tem roupa com etiqueta, tem sapato que eu nem lembrava mais que eu tinha. Eu separo os livros que já li e não gostei, os que já não me fazem diferença e escolho os que eu prometo mais uma vez que irei ler. As roupas me trazem recordações de um passado não tão distante, mas que acabou ficando esquecido no fundo do guarda roupa. Não me parecem tão confortáveis, não fazem mais meu estilo. Os sapatos mofados se juntam aos outros objetos que já não quero mais. E o quarto agora um tanto mais vazio me mostra o vazio que carrego na alma. O cinza das paredes se confunde com o cinza dos meus olhos e eu desabo nos braços da solidão. Não porque eu queira... por escolha, mas por não conseguir desentrelaçar nossos laços. Madrugada a dentro é ela que me faz companhia, que pinta meu céu, que me recolhe a alegria. Ela chegou de mansinho, como se não quisesse nada e foi pelas beiradas me impedindo de escrever, de ver a luz do sol, de conversar sobre as coisas que me faziam bem, solidão se apossou da minha cama, do reflexo no espelho, do meu corpo. Ela fez dos meus lençóis mar traiçoeiro e refém das suas armadilhas. Era um convite para assistir a um filme, uma ida ao shopping para tomar sorvete, uma tarde no parque jogando conversa fora. E ela me fez jogar fora tudo que me fazia bem. De repente já não me encaixo nos mesmos abraços, nos mesmos sorrisos, nas mesmas histórias. As gargalhadas se tornam reclusas e silenciosas. As companhias de sempre já não fazem sentido, e as lacunas que precisam ser preenchidas se acumulam de teias de aranha. Como uma teia gigante são os meus problemas, e feito mosca grudada naquela superfície eu não consigo me mover e a aranha feito solidão se aproxima cada vez mais, me faz tremer nas bases com seu olhar amedrontador, me faz chorar de medo, e por um momento eu rezo para que seja apenas um pesadelo... Os olhos abertos, as mãos trêmulas, o gelo que me toma o corpo... Não era sonho.
Setembro Amarelo - estenda suas mãos, alguém pode está precisando de você. 

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