Tenho percebido que o cansaço
está cada dia mais presente na minha vida. Os banhos se tornaram ainda mais
demorados, o sono ainda mais curto, e as olheiras, um tanto mais profundas. Não
sei ao certo quando tudo mudou, quando essa sensação de vazio se apossou
inteira do meu corpo, mas acredito que tenha chegado pelas beiradas, um dia de
cada vez, um pouquinho de tristeza a cada dia, de repente um universo inteiro
nas minhas costas. As horas de sono nunca parecem suficientes para renovar as
energias. Eu durmo por 8h ou 10h e o corpo continua reclamando: você precisa
ir devagar, por favor pare um instante.
Já faz uns dias que a alma anda
sobrecarregada e eu não consigo parar para apreciar o pôr do sol. E para
alguns, isso pode parecer besteira, mas cada dia que passa algo em mim morre e
eu não quero ser ainda pior do que já sou. Recordo como era maravilhoso sentar
ao fim da tarde para ver o sol se pondo e acabar me emocionando, fosse pela
beleza do momento ou por acabar refletindo sobre a vida. Tenho sentido falta
das lágrimas que eram sinceras, que aliviavam o peso que a vida me colocava.
Tenho realmente me sentido
perdida, e nem coloco a culpa dessa confusão em termos nos afastado, penso que
isso foi só a última gota que meu corpo precisava para transbordar, o coração
fez crack mais uma vez, um lasco bem no meinho dele, e isso tem me cortado a
respiração, o ânimo e muitas outras coisas. É como se em um estalar de dedos eu
já não acreditasse mais no mundo, nas pessoas e principalmente em mim, é a
sensação de ter me perdido no meio do caminho, uma confirmação cada vez mais
clara quando eu observo meus retratos antigos.
Tenho sentido falta da menina
sorridente, do brilho nos olhos, da gratidão pelas mínimas coisas, da pele mais
corada, do coração, que se despedaçou em meio a tantos encontros. Saudades de um tempo que não volta, de alguém
que já fui e não posso ser novamente por mais que eu tente e tente e tente. Não
consigo. Eu me perdi de mim em uma das esquinas que dobrei errado e não tenho
como voltar para me buscar. Mas se me dessem a chance eu gastaria de bom grado o meu único ticket na
máquina do tempo para poder reencontrar-me, talvez eu pudesse mudar tudo que
sou hoje...
Se para lá eu contasse como tudo
é aqui agora tenho certeza que o meu antigo eu faria o possível para parar o tempo, ou
tentaria não errar tanto. Escolheria outros caminhos, outros abraços, outros
sorrisos, agradeceria mais e aproveitaria os presentes que ali foram lhe dados. As
feridas e as más lembranças não existiriam, ou talvez fossem um pouco
diferentes, um pouco menos dolorosas de carregar.
Sinto falta da garota de olhos
vivos, de coração cheio, que mesmo pequeno carregava o infinito. Sinto falta
das histórias que ela vivia, de como enxergava a vida, de como era suficiente
para si e não se jogava de corpo e alma a todas as situações, a quem lhe prometesse sorrisos; ela era rígida, era um tanto sábia nos conselhos que dava, conselhos que não seguiu... ela se perdeu de si.
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